Vítor B Munhao (*)
Vivemos uma era de tal forma mecanizada que mais dia menos dia seremos
obrigados a andar com uma caixa de ferramentas de precisão em vez das Emoções e
Sentimentos a que os nossos pais nos acostumaram! Perde-se a passos largos o
factor humano em substituição de métodos robotizados e pré-programados sustentados
por protocolos beluínos sem qualquer contextualização na essência do Serviço
Social e que não passam de meros projectos de rentabilização financeira.
Demonstração disso está a cada vez maior presença de “outras” profissões
ditas das ciências sociais que não a de Assistente Social, sem habilitação profissional
adequada ou construídas pela conveniência financeira. De igual forma é
observável a falta de respeito não só profissional, mas também como pessoa com
as publicações do que se intitula “vagas de emprego”, seja por anúncios
públicos onde os ordenados são uma afronta e dando a perceber pela contestação
da classe que existem profissionais que ainda não conseguiram gastar o ordenado
de Janeiro e outros conseguem realizar algumas poupanças com o Rendimento
Social de Inserção levando ao ponto do conhecido pelintra chamado Tio Patinhas a
sentir-se envergonhado!
É notória a promiscuidade de algumas profissões e profissionais no meio
de uma classe cada vez mais inerte e medrosa onde a prostração é total e
constante por parte das centenas de Assistentes Sociais que ainda não
conseguiram uma oportunidade para mostrar as suas capacidades humanas e
técnicas.
Aqueles que ainda conseguem por enquanto manter as suas posições de
trabalho podem estar em vias de extinção em muito provocado pelas novas terminologias
e linhas automatizadas de respostas sociais onde a iniciativa profissional e
pessoal de cada um é pura e simplesmente aniquilada por experientes gestores
financeiros que se intitulam directores com um único objectivo, vender aos
“pobrezinhos” um produto pré-concebido por um sistema financeiro governado por grupos
económicos circunscritos, ditos do Terceiro Sector.
Tornou-se quase que uma linha de montagem tal e qual a fabricação de um
automóvel, de respostas sociais uniformizadas dirigidas à comunidade ou grupos.
Respostas que foram concebidas desconsiderando as necessidades individuais da
pessoa como ser humano e que têm levado ao desespero inúmeros profissionais, muito
em especial no campo das ERPI´s ou SAD que mais se parecem com aquela imagem de
“pavor” quando chega o Natal e a nossa avó nos oferece um par de meias às
riscas, tipo arco-íris e das quais não podíamos dizer que não gostávamos. Assim
vão estas instituições onde o seu utente é OBRIGADO a cumprir um ritual
ridículo e humilhador tipo, levanta às 6 da manhã, pequeno almoço e sala para
ver televisão, mantinha nas pernas para não se queixar do frio e a família só a
partir das 16 horas pode visitar o seu familiar, se não pintas os desenhos não
comes a sobremesa!!!
Respostas generalistas e descaracterizadas das necessidades especificas e
vontades de cada individuo particularmente da área da prestação do apoio ao
idoso, onde se continua a permitir o e a motivar o assistencialismo quase
sempre assente no contexto do lucro financeiro, anulando por completo a
AUTODETERMINAÇÂO da pessoa ou da sua capacidade de decisão, confinando-o a 4
paredes onde definham das suas expectativas de vida com o mínimo de qualidade e
de bem-estar.
É verdade que a ausência de entidade reguladora ou de uma ordem permite
o assalto ao poder, ainda mais com a impassividade, desorganização e
indiferença por parte da classe levando inclusive a que novas licenciaturas
supostamente académicas sejam requeridas por algumas autarquias, nomeadamente
Cabeceiras de Basto que no seu ultimo concurso público exigiu LICENCIATURA em
ASSISTÊNCIA SOCIAL.
Devemos lamentar que se continue a alimentar áreas de negocio pré-formatadas
mediante as normas de um fabricante de produtos sociais como se de uma fábrica
de chouriços se falasse onde, não só a inovação é condenada, como quem a tenta
é automaticamente rotulado de Louco ou, digamos com o politicamente correcto é
convidado integrado no plano da Saúde Mental!
Perceber que as novas profissões ou algumas que ocuparam subtilmente as
competências do Assistente Social vêm já pré-programadas com determinadas
metodologias que em tudo se tornam inadequadas. Supostamente deveriam estas
acções retrogradas ser motivo óbvio de um levantamento de rancho ou qualquer
outro tipo de manifestação junto do Estado, mas não, continuamos a assobiar
para o lado, sentar em esplanadas e bérber umas fresquinhas porque o calor
assim convida!
Continuamos a alimentar egos internos de alguns formadores permitindo
que se ludibrie o pensamento do formando com ensinamentos de base completamente
fora da realidade nacional e em queda nos seus países de origem.
Um dia todos nós vamos perceber que foi, é e será sempre nossa culpa
tudo o que se observa na área do Serviço Social. Eu já percebi faz há muito
tempo e os outros, perceberam? ACHO QUE NÃO! Ou perceberam, mas não estão para aí
virados!!!!
(*) licenciado em Serviço Social / Pós-graduado
em Gestão de Unidades Sociais e de Bem-estar / Member of the Associação dos
Profissionais de Serviço Social (APSS) / Member of the British Association of
Social Worker (BASW) / Member of the British College of Social Work (BCSW) /
Member of the International Association for the Defense of the Ostomy Person
(AIDPO) / Member of the World Council of Enterostomal Therapists (WCET)
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