sexta-feira, 9 de junho de 2017

O SERVIÇO SOCIAL NO PAÍS DO FAZ DE CONTA!

Vítor B Munhao (*)

Vivemos uma era de tal forma mecanizada que mais dia menos dia seremos obrigados a andar com uma caixa de ferramentas de precisão em vez das Emoções e Sentimentos a que os nossos pais nos acostumaram! Perde-se a passos largos o factor humano em substituição de métodos robotizados e pré-programados sustentados por protocolos beluínos sem qualquer contextualização na essência do Serviço Social e que não passam de meros projectos de rentabilização financeira.

Demonstração disso está a cada vez maior presença de “outras” profissões ditas das ciências sociais que não a de Assistente Social, sem habilitação profissional adequada ou construídas pela conveniência financeira. De igual forma é observável a falta de respeito não só profissional, mas também como pessoa com as publicações do que se intitula “vagas de emprego”, seja por anúncios públicos onde os ordenados são uma afronta e dando a perceber pela contestação da classe que existem profissionais que ainda não conseguiram gastar o ordenado de Janeiro e outros conseguem realizar algumas poupanças com o Rendimento Social de Inserção levando ao ponto do conhecido pelintra chamado Tio Patinhas a sentir-se envergonhado!

É notória a promiscuidade de algumas profissões e profissionais no meio de uma classe cada vez mais inerte e medrosa onde a prostração é total e constante por parte das centenas de Assistentes Sociais que ainda não conseguiram uma oportunidade para mostrar as suas capacidades humanas e técnicas. 

Aqueles que ainda conseguem por enquanto manter as suas posições de trabalho podem estar em vias de extinção em muito provocado pelas novas terminologias e linhas automatizadas de respostas sociais onde a iniciativa profissional e pessoal de cada um é pura e simplesmente aniquilada por experientes gestores financeiros que se intitulam directores com um único objectivo, vender aos “pobrezinhos” um produto pré-concebido por um sistema financeiro governado por grupos económicos circunscritos, ditos do Terceiro Sector.

Tornou-se quase que uma linha de montagem tal e qual a fabricação de um automóvel, de respostas sociais uniformizadas dirigidas à comunidade ou grupos. Respostas que foram concebidas desconsiderando as necessidades individuais da pessoa como ser humano e que têm levado ao desespero inúmeros profissionais, muito em especial no campo das ERPI´s ou SAD que mais se parecem com aquela imagem de “pavor” quando chega o Natal e a nossa avó nos oferece um par de meias às riscas, tipo arco-íris e das quais não podíamos dizer que não gostávamos. Assim vão estas instituições onde o seu utente é OBRIGADO a cumprir um ritual ridículo e humilhador tipo, levanta às 6 da manhã, pequeno almoço e sala para ver televisão, mantinha nas pernas para não se queixar do frio e a família só a partir das 16 horas pode visitar o seu familiar, se não pintas os desenhos não comes a sobremesa!!!

Respostas generalistas e descaracterizadas das necessidades especificas e vontades de cada individuo particularmente da área da prestação do apoio ao idoso, onde se continua a permitir o e a motivar o assistencialismo quase sempre assente no contexto do lucro financeiro, anulando por completo a AUTODETERMINAÇÂO da pessoa ou da sua capacidade de decisão, confinando-o a 4 paredes onde definham das suas expectativas de vida com o mínimo de qualidade e de bem-estar.

É verdade que a ausência de entidade reguladora ou de uma ordem permite o assalto ao poder, ainda mais com a impassividade, desorganização e indiferença por parte da classe levando inclusive a que novas licenciaturas supostamente académicas sejam requeridas por algumas autarquias, nomeadamente Cabeceiras de Basto que no seu ultimo concurso público exigiu LICENCIATURA em ASSISTÊNCIA SOCIAL.

Devemos lamentar que se continue a alimentar áreas de negocio pré-formatadas mediante as normas de um fabricante de produtos sociais como se de uma fábrica de chouriços se falasse onde, não só a inovação é condenada, como quem a tenta é automaticamente rotulado de Louco ou, digamos com o politicamente correcto é convidado integrado no plano da Saúde Mental!

Perceber que as novas profissões ou algumas que ocuparam subtilmente as competências do Assistente Social vêm já pré-programadas com determinadas metodologias que em tudo se tornam inadequadas. Supostamente deveriam estas acções retrogradas ser motivo óbvio de um levantamento de rancho ou qualquer outro tipo de manifestação junto do Estado, mas não, continuamos a assobiar para o lado, sentar em esplanadas e bérber umas fresquinhas porque o calor assim convida!

Continuamos a alimentar egos internos de alguns formadores permitindo que se ludibrie o pensamento do formando com ensinamentos de base completamente fora da realidade nacional e em queda nos seus países de origem.

Um dia todos nós vamos perceber que foi, é e será sempre nossa culpa tudo o que se observa na área do Serviço Social. Eu já percebi faz há muito tempo e os outros, perceberam? ACHO QUE NÃO! Ou perceberam, mas não estão para aí virados!!!!


(*) licenciado em Serviço Social / Pós-graduado em Gestão de Unidades Sociais e de Bem-estar / Member of the Associação dos Profissionais de Serviço Social (APSS) / Member of the British Association of Social Worker (BASW) / Member of the British College of Social Work (BCSW) / Member of the International Association for the Defense of the Ostomy Person (AIDPO) / Member of the World Council of Enterostomal Therapists (WCET)

Sem comentários:

Enviar um comentário

OPINANDO A (DES)AUTORIDADE DO AGENTE DA PSP

  Após a chamada telefónica assisti, não só celeridade na chegada, profissionalismo na abordagem quer com a minha pessoa quer com a pessoa l...