(*) Vitor B
Munhao
Usar
um saco colector, um dispositivo médico para uma ostomia torna-se algo
complicado e que nos obriga na maioria dos casos a abdicar de hábitos, rotinas
culturais e de tradições que faziam parte da sua vida diária.
Uma
ostomia, neste caso de eliminação ou digestiva provoca um revirar da nossa vida
e para o qual nunca estamos preparados na sua grande maioria alterações nas
mais diversas vertentes da vida social da pessoa nomeadamente ao nível clínico,
higiene, alimentação e social, considerando também e na sua grande maioria o
contexto financeiro.
O
uso do dispositivo médico (vulgo saco) pode provocar um desconforto inicial
levando numa primeira fase a um sentimento de ansiedade, medo e em muitos casos
de revolta não só por não possuirmos a informação necessária para uma adaptação
ao estoma e suas novas regras de vivencia, mas acima de tudo porque vivemos com
algo colado ao nosso corpo e do qual não temos qualquer controlo. A sociedade
deveria perceber as dificuldades físicas, emocionais e financeiras da pessoa
com ostomia de eliminação, tornando-se algo que vai além da compreensão de quem
nunca viu, sentiu ou leu sobre esta matéria.
Em Setembro de 2013 surge na cidade do Barreiro a Associação Internacional para a Defesa da Pessoa com
Ostomia por força da experiencia dos
seus fundadores e conhecimento prático e teórico da diminuta reposta técnica e social
nesta área e onde o empenho na constituição de respostas sustentadas e de
qualidade dedicadas ao ostomizado e sua família, não só no trabalho
profissional do ponto de vista técnico mas, acima de tudo num contexto de
humanização e proximidade dos cuidados da pessoa com ostomia, realizou-se um
primeiro estudo de fundo desta associação.
Estudo
que passou por contextualizar esta condição clínica e física no Concelho do
Barreiro entre Janeiro e Maio de 2014, onde podemos considerar que quando
falamos em ostomia de eliminação e em especial no Concelho do Barreiro os
números deixam-nos algo pensativos perante os cerca de 312 homens, mulheres e
crianças com esta condição entre uma população perto dos 78.764 residentes, o
que equivale a cerca de 0,4% da população com uma problemática que origina
anualmente um aumento na ordem dos 0.02% em relação a 2013. Os números
apresentados resultam da recolha e tratamento de informação por parte da Associação
Internacional para a Defesa da Pessoa com Ostomia, junto de diversas unidades
hospitalares, principalmente do Centro Hospitalar do Barreiro, EPE que abrange
os quatro concelhos. Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete.
Na
sua maioria a comunidade Ostomizada é portadora de idade acima dos 71 anos e
com uma incidência no sexo masculino na ordem dos 68,91%, em que 89% são reformados
e utentes do Serviço Nacional de Saúde, 78% das Ostomias são Definitivas e 22%
Temporárias. Na comunidade barreirense, cerca de 59% tem um rendimento abaixo
dos €500 e 4,75% encontra-se acamado ou dependentes do cuidador para efectuarem
algumas das tarefas diárias muito em especial ao nível da higiene pessoal e
substituição do dispositivo.
79
destas pessoas, cerca de 25,32% estão localizadas na União de Freguesias do
Barreiro e Lavradio, seguindo-se a Junta de Freguesia de Santo António
da Charneca com 61 casos identificados, cerca de 25%. A União das
Freguesias do Alto do Alto do Seixalinho, Santo André e Verderena com
18,59% cerca de 58 casos e por último a União de Freguesias de Palhais e Coina
com 9 casos, cerca de 2.88%. Salientamos o facto da União das Freguesias do
Alto do Seixalinho, Santo André e Verderena terem registado 2 casos com
idades compreendidas entre a idade de recém-nascido e os 3 anos de idade, cerca
de 0,64% e União de Freguesias do Barreiro e Lavradio identificado 1
caso com 9 anos, com uma ostomia provocada por acidente de viação.
Em
2014 e na continuidade do trabalho de investigação desenvolvido pela
instituição observou-se um aumento de casos com idades inferiores a 30 anos o
que nos permite construir o pensamento sobre esta condição clinica e que nos dá
alguma liberdade para construir uma questão de fundo “a identificação
precoce da causa, em especial o Cancro do Colon e/ou Recto pode provocar o
aumento da condição temporária de uma ostomia, diminuindo em simultâneo a ostomia
definitiva?”
Os
dados que têm vindo a ser avaliados provocam-nos um repensar de facto sobre as
respostas de rastreio nomeadamente ao nível da colonoscopia e um reforço urgente
das equipas multidisciplinares e nas acções preventivas na comunidade. Onde
consideramos a urgência no reforçar das acções de sensibilização e informação
junto da comunidade, disponibilizando a informação eficaz e eficiente de forma
a desmistificar quer a importância da colonoscopia, bem como informar sobre as
possíveis causas que originam a ostomia de eliminação ou digestiva.
O
concelho do Barreiro com uma população na ordem dos 80.000 habitantes
distribuídos por 36,39 km2, onde cerca de 21,60% desses residentes tem idade
acima dos 65 anos e onde a Freguesia de Santo António da Charneca que se
posiciona na terceira posição, sendo a mais povoada a União de Freguesias da
Verderena, St André e Alto do Seixalinho, seguida pela União de Freguesias do
Barreiro e Lavradio, é a de maior extensão geográfica e a que possui a faixa
etária mais alta e posiciona-se na segunda posição em numero de casos de
ostomia.
Podemos
aqui também considerar algumas questões, nomeadamente ao nível da ausência de
informação ou proximidade a unidades de saúde em zonas de maior isolamento,
acessibilidade ou hábitos diários e questões culturais. Avaliar a importância
da informação através de acções de sensibilização junto de uma população
maioritariamente alentejana.
A
Cidade do Barreiro, é talvez dos 378 Concelhos do Continente e Ilhas o que mais
informação possui sobre esta condição clínica e social, através dos diversos
estudos e desenvolvimento de projectos relacionados com a acessibilidade, muito
em especial ao nível das casas de banho para pessoas portadoras de deficiência
e que foram nos últimos anos realizados pela AIDPO em Portugal e fora de Portugal.
Informar,
Formar para que seja possível uma melhoria da qualidade de vida do Ostomizado e
do seu Cuidador Informal!
Existem
inúmeros casos que nos mostram a “solidão” e a limitação na sua informação, sendo
que e em grande número se tornaram “reféns” da sua Ostomia. Nem sempre admitem
a inibição dos seus passeios, da limitação da sua vida social ou porque o
intestino não está a funcionar como gostariam, porque desconhecem a
possibilidade de realizarem uma irrigação (dependendo da opinião clínica e da
enfermagem especializada).
As
suas viagens por exemplo, no verão quando as temperaturas são mais elevadas, perceber
o que fazer para que o penso ou placa de hidrocoloide não descole e não só, são
situações que estas pessoas enfrentam na sua maioria com alguns sacrifícios
mas, que pelo menos não tenham receios e possam pensar que é possível voltar a
ter uma vida social, laboral e familiar muito próximo do que tinham antes da
cirurgia que levou ao estoma.
Em
Portugal o número de pessoas com ostomia de eliminação tem vindo a aumentar e
continuará a aumentar por força das condições sociais e ausência de acções de
rastreio ou sensibilização. Temporárias ou definitivas, as acções devem ser
tomadas pelo Serviço Nacional de Saúde, criando políticas públicas de saúde e
sociais adequadas e não reforçar apenas as políticas de salvaguarda de alguns
grupos económicos.
Os
últimos meses de 2019, serão com certeza momentos de informação e formação, dos
quais daremos em momento oportuno conhecimento do calendário dos eventos no
concelho do Barreiro.
Endereço da
Rua 1º de Dezembro 31B, Alto do Seixalinho, 2830-033 Barreiro – Portugal
Contacto +351 212 170 731
(*) licenciado em Serviço Social – ULHT / Pós-graduado em Gestão de
Unidades Sociais e de Bem-estar – ULHT / Doutorando em Serviço Social - ISCTE /
Member of the Associação
dos Profissionais de Serviço Social (APSS) / Member of the British Association
of Social Worker (BASW) / Member of the British College of Social Work (BCSW) /
Member of the International Association for the defense of the Ostomy Person
(AIDPO) / Member of the World Council of
Enterostomal Therapists (WCET)
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