NOTICIAS DO ANO 2050

Estou vivo e ainda trabalho pois agora já ninguém tem direito à Reforma. Exerço as minhas funções no Instituto da Promoção da Pobreza. Preparo um Estudo sobre o Empobrecimento Lícito e o certo é que já sei as conclusões – empobrecer é legítimo, justo, lícito e patriótico.

Precisam-se mais pobres para manter os serviços sociais mas, sem Assistentes Sociais, já temos os Educadores Sociais, Psicologos, Animadores Socio Culturais e ultimamente os Técnicos Superiores Profissionais de Serviço Social e Desenvolvimento Comunitário. O crime tem diminuído assustadoramente. Os polícias passam os dias a jogar às cartas, a contar anedotas ou a ver televisão. Felizmente vai ser inaugurada, em breve, uma Escola de Delinquência, na qual se podem licenciar ladrões e vigaristas, estando até previsto um Doutoramento em Tráfico de Influências e Como Substituir o Assistente Social.
O meu quotidiano é simples. Apanho de manhã o transporte e se o perco, tenho logo apoio psicológico, pois há em cada paragem um Psicólogo ou Advogado. Aliás, existem por todo lado.
Ainda na semana passada, quando no Restaurante entornei a sopa, tive logo o respectivo apoio da Psicóloga do Estabelecimento .

Também há Advogados nos Restaurantes, nos Cafés e até nas Casas de Alterne, sempre disponíveis, pois são quatro por cada cidadão.

Moro num Velhil, destinado aos que U.P.V. (Ultrapassaram o Prazo de Validade). Embora fosse um antigo canil, a casa é agradável. Recebemos muitas visitas de estudantes e uns gostam muito, outros preferem o Jardim Zoológico ou o Aquarius!
Dão-nos muito Sushi e comida ileofilizada o que não nos deixa engordar muito, também temos médico todas as semanas e que agora é obrigatório apalpar o cliente. 

No meu quarto afixei fotografias quando era Assistente Social e no outro dia uma Professora perguntou-me se eu é que era o Assistente Social da foto. Respondi-lhe afirmativamente. Quanto à profissão já ouvira falar… Apareceu depois de Aljubarrota, não foi?

O Blogue sobrevive. A Maestrina Clara comanda-o com o olhar, pois já não se usam teclas.
Qualquer dia, teremos mais um encontro. Virtual, claro…, mas, com chá e sconnes!

(Noticia adaptada de Estórias Cabralianas / Professor Jorge Cabral)