sábado, 18 de fevereiro de 2017

GOVERNOS DESPREOCUPADOS COM A OSTOMIA - A REGRESSÃO SOCIAL DA COMUNIDADE OSTOMIZADA

Vítor Bento Munhão / Assistente Social
Member of the Associação dos Profissionais de Serviço Social
Member of the British Association of Social Workers
Social Worker Expert in Ostomy Community


Muitos são os que desconhecem esta condicionante física, emocional e acima de tudo socioeconómica de quem é portador de uma ostomia de eliminação, desconhecendo as dificuldades de uma população que continua a desconhecer os seus direitos sociais e humanos dando azo a que os governantes estabeleçam medidas a seu belo prazer e sem que seja avaliado o impacto das mesmas junto da pessoa, grupo ou comunidade.

É cada vez mais uma tónica camuflada no portador da ostomia o recurso à reutilização dos dispositivos médicos, em especial a norte do país, face ao maior número de casos e onde as associações de apoio encontram maior dificuldade logística e financeira para uma resposta de qualidade e onde poucos são os hospitais com resposta ao nível social e de enfermagem onde muitas vezes estes profissionais por força das dificuldades logísticas e estruturais de algumas unidades hospitalares não conseguem colocar o seu pleno conhecimento sobre a ostomia ao dispor da pessoa ostomizada.

Com efeito as associações representativas têm um papel social relevante para a melhoria da qualidade de vida desta pessoa e sua família substituindo-se em muito ao papel da unidades de saúde onde a resposta é diminuta ou inexistente muitas vezes valendo a força e motivação pessoal dos profissionais de enfermagem.   

A Ostomia não afecta apenas o seu portador, mas toda a sua envolvência social, particularmente a família originando muitas vezes crises de difícil solução por falta de formação e/ou informação colocando em causa toda a organização da vida quotidiana e as relações entre a sociedade, agravada pelos custos na aquisição do dispositivo e é este último factor que os governos mostram a sua insolência e falta de respeito por esta comunidade.

Falamos num negócio anual que ronda 3,5 a 4 milhões de euros para as companhias e onde o menos beneficiado é o Ostomizado que convém DESTABILIZADO e (DES) INFORMADO sobre um assunto que se observa como interdito, pois o Estado não pretende saber ao certo quem são e quantos são os ostomizados portugueses.

A pessoa ostomizada ao deslocar-se a uma farmácia, pagava por inteiro o valor do seu material solicitando posteriormente o devido reembolso junto do Ministério da Saúde que, em muitos casos culminava num longo tempo de espera por parte do ostomizado provocando-lhe graves consequências financeiras, em especial quando falamos de ostomizados com pensão de sobrevivência entre os €120 e €289.

No entanto nas associações (IPSS), essa condição não acontece pois o material é atribuído gratuitamente sendo o restante valor (10%) comportado pela associação com os valores de cotas patrocínios ou donativos, ao abrigo da legislação em vigor.

Não se coloca em causa o facto da rede nacional de farmácias, passar a ser um parceiro, coloca-se sim em causa, a insensibilidade, frieza e intenção por parte do INFARMED e Ministério da Saúde de “eliminar da rede de apoio” associações de solidariedade quando colocam todo um sistema de apoio social em ruptura, retirando-lhes a eficácia e eficiência em detrimento da rede nacional de farmácias não conseguindo produzir respostas socialmente credíveis nesta área e provocando indefinições na estrutura voluntária que apoia esta causa desde 1992 proferindo afirmações sem qualquer conhecimento técnico ou social sobre esta problemática! Muitos são os que falam mas, que nem sabem do que falam. 

É um documento pouco actualizado face à realidade e necessidades mínimas da comunidade ostomizada em Portugal para além de socialmente desestabilizador e onde é evidente a desumanização da prestação social para a pessoa ostomizada.

Nunca uma entidade pública tomou medidas de forma tão despreocupada e insensível provocando o regredir dos cuidados e pensamento social, onde o ostomizado mais uma vez é remetido à sua insignificância e desconsideração social e humana.

Urge uma articulação séria por parte das associações de utentes, representantes desta comunidade, as quais têm um conhecimento profundo sobre a matéria de forma a promover a mobilização para o esclarecimento sério e credível sobre a pessoa ostomizada levando os governantes a perceber de facto o que uma ostomia de eliminação e qual a sua limitação seja ela física, emocional ou social.

Os políticos e sabem do que se fala pois têm nas suas mãos diversas exposições e estudos sociais sobre esta matéria e outras relacionadas nomeadamente com o reconhecimento dos profissionais de enfermagem com formação em estomaterapia, o dia nacional do ostomizado ou o pedido de integração do wc-polivalente na nova legislação da Acessibilidades para a pessoa portadora de deficiência.
Do Bloco de Esquerda, Deputado João Semedo (2008) e Euro Deputada Marisa Martins (2017), Partido Socialista, Deputada Elza Pais (2012) e do CDS Deputado Nuno Magalhães, João Viegas e Ministro do Trabalho e Solidariedade Dr. Pedro Mota Soares(2011) onde todos eles se alheiam de um assunto que substancia os “maus cheiros” provocados por uma ostomia de eliminação mas, congratulam-se pelo Dia Nacional do Peregrino, proposto pelo PSD em 2015!

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