Vítor Bento Munhão
(*)
Assistente
Social
Supostamente
e perante tudo o que se vê e lê nos jornais e redes sociais com o numero de vagas
de emprego para Assistentes Sociais, a classe deveria dar saltos de alegria. No
entanto nada mais errado se poderia pensar.
É notória a camuflagem
e mistificação dessas mesmas propostas onde depois de avaliadas nos apercebemos
que nada mais passam do que palavras vazias e cheias de desrespeito pela
profissão. Palavras onde os proponentes sejam eles, publico ou privados se imiscuem
na classificação da profissão, atribuindo novas terminologias a seu belo prazer
e sem qualquer controlo ou comentário por parte das entidades ditas
responsáveis.
Cada vez
mais se observam propostas de trabalho onde a descaracterização da classe é evidenciada
pelo resultado da passividade com que temos vivido os últimos anos e onde as
instituições a seu belo prazer contratam e (des) contratam sem qualquer justificação
ou responsabilização.
Sabendo a
classe de situações graves ou de puro desleixo provocadas exactamente por este
desregular da profissão, aconchegamo-nos na nossa concha e aguardamos que algo
de melhor surja no dia de amanhã. Em concreto e com os devidos respeitos por
quem escolheu esta profissão julgo que a salvação ainda vem longe e se nada se
fizer por parte da massa critica profissional, nada irá acontecer para futuro,
continuando a profissão ate ao momento da sua extinção.
Sabemos bem
onde está a falha, mas não a queremos assumir, temos o pavor de não conseguir
um trabalho porque somos reivindicativos, esquecendo que o individualismo em excesso
pouco consegue fazer neste mundo muito em especial nesta profissão.
Tenho o
privilegio de conhecer colegas que lutam desmedidamente por novas ideias,
conceitos e até mesmo pela ajuda a outros que se recusam a aceitar que estamos
moribundos e a cair no ridículo do que se pode considerar num país cada vez
mais dominado pela deterioração da profissão. Outros lutam com as poucas forças
que lhes restam para conseguir um trabalho digno da sua experiencia
profissional, sendo ultrapassados pelos denominados “Zé Cunhas” que mais tarde
e nas redes sociais perguntam como fazer ou o que fazer.
Vivemos num
país onde ser Assistente Social é escarnio de mal dizer e considerado por
outras profissões apenas um emplastro que serve para arrumar papeis na gaveta ou
ir ao café da esquina comprar cigarros e que para nada mais serve o Assistente
Social. No entanto e como tantas outras a nossa profissão, os nossos
profissionais são, culpados e em muito por permitirem a cartelização dos
serviços e onde o lobby governa e é diferenciado pelo cartão partidário ou o do
“Zé Cunha”, que diga-se que o pobre coitado não tem culpa do que se passa.
Diariamente propostas
dissimuladas onde outras profissões que não a de Assistente Social são abertas
para integrar os que do Serviço Social nada percebem ou pretendem perceber
porque a necessidade de um posto de trabalho é mais alta que os valores da
profissão ou cargo a ocupar.
Entre as
duas entidades representativas, APSS e SNAS, talvez não se ultrapassem os seiscentos
ou setecentos associados num universo de mais de quinze mil profissionais,
mesmo que sejam 10% podemos afirmar que é um valor tolamente exíguo e sem
qualquer expressão permitindo fortes argumentos para que se continue a ver
propostas de emprego cada vez mais com funções absurdas e a valores de “saldo”
onde é proposto o ordenado para Director Técnico na ordem dos €350 ou em
part-time a €200 e a permitir que algumas profissões, onde nos incluímos empilhem
6, 7 e mais cargos sem que sejam responsabilizados como o conseguem fazer ou profissões
descontextualizadas do Serviço Social literalmente a levarem não o assalto ao
paiol de Tancos mas, aos serviços e funções que por direito são do Assistente
Social.
Continuaremos
a viver numa angustia onde mais uma vez um governo dito social elogia a
desregulamentação, alheando-se do seu papel regulador promovendo o
assistencialismo e reforçando os grandes núcleos duros desse mesmo
assistencialismo. Ignorando por completo a profissão e em especial os seus
profissionais.
Continuamos a
ver passivamente alguns deputados que até foram Assistentes Sociais ou docentes
no serviço social a assobiar para o lado como se nada se tratasse ou em corrente
contrária à constituição da ordem, sendo quase aquilo a que podemos designar
uma luta de galos ou talvez de galinhas, com os devidos respeitos e
considerações!
São esses
mesmo Formadores que se alheiam de transmitir aos novos Assistentes Sociais que
terminam a sua graduação as ferramentas ditas adequadas para fazer face a um
futuro profissional bastante negro. Formadores que em nada fomentam a humanização
da profissão muito pelo contrário. É óbvio que entre as cerca de 19 ou 20
escolas, publicas ou privadas a guerra está instalada pois o aperto financeiro
leva a que muitos se sintam, digamos apertados sobre o seu futuro e que talvez
já comecem a fazer alguma futurologia sobre os anos que por ai vêm!
Deixo mais uma
vez a questão “o que pensam fazer pelo futuro da classe, sim pelo futuro da
classe! Se pensam que se resolve apenas com meia dúzia de carolas a trabalharem
por uma causa de milhares, estão redondamente enganados e correm o risco de
perder tudo aquilo em que supostamente acreditam.
Continuem a
permitir que “alguns” governem a seu belo prazer e depois não digam que não
foram alertados!
Aproveitem o
verão, quem sabe se até lá a tão desejada Ordem dos Assistentes Sociais aparece
por obra e graça do espirito santo para depois uma nova guerra nascer! Mas essa
será outra “novela”!
“Aquele que
dormia, acordou” (Dune / 1985)
(*)
Licenciado em Serviço Social pela Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias (2006) - Pós graduado em Serviço Social pela Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias – Gestão de Unidades Sociais e de Bem-estar (2010)
- VIA University College – Risskov Denmark in International Health (2017) - Membro
da Associação dos Profissionais de Serviço Social - Membro da British Association
of Social Workers - Membro do British
College of Social Work - Membro Fundador da International Associatition for the
Defense of the Ostomy Person - Member of the World Council of Enterostomal Therapists -
Managing Director of TMI UK - Expert in Ostomy Community
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