(*) Vitor Bento Munhao
De facto no mundo actual a internet domina e move-nos de tal forma que
muitas vezes ficamos sem perceber se é ou não uma ferramenta a que se possa
considerar humanizadora da actual sociedade.
Muito se discute a terceira idade e o isolamento dos mais “velhos” mas,
muito pouco se concretiza efectivamente na defesa da qualidade de vida de quem
é remetido para um nível de esquecimento e onde a despreocupação pelos mais de 39
mil residentes maiores de 65 é latente, substituindo-se a carta por “sms”, como
se todos soubessem utilizar um telemóvel ou ler uma mensagem.
Implementam-se medidas que e não negligenciando ou denegrindo a sua importância
do ponto de vista geral para quem sabe utilizar apenas tomando em consideração a
redução de custos e esquecendo que e cada vez mais o grupo etário dos “maiores
de 65” é elevado e sem grandes opções de aprendizagem destas novas tecnologias.
Deixar de enviar carta a confirmar a data da consulta aplicando um
sistema informativo sem direito de opção para informar o utente, poderia ser
algo de bom, inovador não, porque já foi implementado em diversos serviços de
saúde mas, mas parece-me que se esqueceram do conceito generalista de
acessibilidade à informação, obrigando muitos residentes a uma aprendizagem obrigatória
da utilização das novas tecnologias de comunicação e esquecendo que outros
serviços de saúde implementaram estas mesmas tecnologias deixando em aberto a
opção se o utente quer receber a informação por carta, sms ou até mesmo um telefonema
dos serviços ao utente a confirmar a tão esperada consulta.
Quando um centro hospitalar tem uma área de influencia onde os números mostram
que a faixa etária com mais de 65 anos ultrapassa os 19,5% no seu global e onde
a taxa de analfabetismo é superior a 4.27% cria novas ferramentas de informação
não permitindo opções e esquecendo aqueles que não passaram da velha forma de
comunicação entregue pelo carteiro e que era lida pelo vizinho ou familiar
deixamos de respeitar o individuo intensificando de facto a velha questão de
apenas nos considerarem um numero na sociedade!
O vizinho ou amigo que mal conseguia ler a carta passam agora a ter que
saber operar o tal do telemóvel onde e apenas sabiam que o botão verde aceita a
chamada e o vermelho desliga essa chamada, não considerando inclusive quem não
possui qualquer tipo de tecnologia comunicacional como o telemóvel.
É notório a ignorância e o desprezo a que remetem o cidadão quando se
fecham os serviços de maior utilização por parte de quem tem uma idade mais
avançada e onde criou hábitos e conceitos de confiança com os funcionários ao
longo dos anos e que facilitavam em muito o dia-a-dia desta pessoa e se
implementam mecanismos ditos promotores de qualidade de vida sem acautelar os
resultados negativos ou o impacto que é provocado na comunidade de maior idade pelo
desconhecimento na utilização destas tecnologias.
Em suma, acabamos com as cartas para reduzir os custos, acabamos com os
correios porque não se justifica, acabamos com os jornais regionais por falta
de apoios e acabamos com as dependências bancárias porque não se justifica a sua
continuidade.
Afinal de contas, parece-me que não se descentraliza os serviços mas,
centralizam-se os mesmos nos grandes centros urbanos, limitando a acessibilidade
das áreas envolventes de uma cidade cada vez mais velha e degradada como é a
Cidade do Barreiro onde se limita a mobilidade da informação e serviços públicos!
(*) licenciado em Serviço Social / Pós-graduado
em Gestão de Unidades Sociais e de Bem-estar / Member of the Associação dos
Profissionais de Serviço Social (APSS) / Member of the British Association of
Social Worker (BASW) / Member of the British College of Social Work (BCSW) /
Member of the International Association for the Defense of the Ostomy Person
(AIDPO) / Member of the World Council of Enterostomal Therapists (WCET)
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