sexta-feira, 5 de abril de 2019

A “TEMPESTADE” SOCIAL! SOLIDARIEDADE PROFISSIONAL, O QUANTO ENGANAS!


Vítor Bento Munhão (*)
Assistente Social
 
Supostamente e perante tudo o que se vê e lê nos jornais e redes sociais com o número de vagas de emprego para Assistentes Sociais, a classe deveria dar saltos de alegria. No entanto nada mais errado se poderia pensar.

É notória a camuflagem e mistificação dessas mesmas propostas onde depois de avaliadas nos apercebemos que nada mais passam do que palavras vazias e cheias de desrespeito pela profissão. Palavras onde os proponentes sejam eles, publico ou privados se imiscuem na classificação da profissão, atribuindo novas terminologias a seu belo prazer e sem qualquer controlo ou comentário por parte das entidades ditas responsáveis.

Cada vez mais se observam propostas de trabalho onde a descaracterização da classe é evidenciada pelo resultado da passividade com que temos vivido os últimos anos e onde as instituições a seu belo prazer contratam e (des) contratam sem qualquer justificação ou responsabilização.

Sabendo a classe de situações graves ou de puro desleixo provocadas exactamente por este desregular da profissão, aconchegamo-nos na nossa concha e aguardamos que algo de melhor surja no dia de amanhã. Em concreto e com os devidos respeitos por quem escolheu esta profissão julgo que a salvação ainda vem longe e se nada se fizer por parte da massa critica profissional, nada irá acontecer para futuro, continuando a profissão até ao momento da sua extinção.

Sabemos bem onde está a falha, mas não a queremos assumir, temos o pavor de não conseguir um trabalho porque somos reivindicativos, esquecendo que o individualismo em excesso pouco consegue fazer neste mundo muito em especial nesta profissão.

Tenho o privilegio de conhecer colegas que lutam desmedidamente por novas ideias, conceitos e até mesmo pela ajuda a outros que se recusam aceitar que estamos moribundos e a cair no ridículo do que se pode considerar num país cada vez mais dominado pela deterioração da profissão. Outros lutam com as poucas forças que lhes restam para conseguir um trabalho digno da sua experiência profissional, sendo ultrapassados pelos denominados “Zé Cunhas” que mais tarde e nas redes sociais perguntam como fazer ou o que fazer.

Vivemos num país onde ser Assistente Social é escarnio de mal dizer e considerado por outras profissões apenas um “emplastro” que serve para arrumar papeis na gaveta ou ir ao café da esquina comprar cigarros e que para nada mais serve o Assistente Social. No entanto e como tantas outras a nossa profissão, os nossos profissionais são, culpados e em muito por permitirem a cartelização dos serviços e onde o lobby governa e é diferenciado pelo cartão que, diga-se de passagem, que o pobre coitado não tem culpa do que se passa.

Diariamente propostas dissimuladas onde outras profissões que não a de Assistente Social são abertas para integrar os que do Serviço Social nada percebem ou pretendem perceber porque a necessidade de um posto de trabalho é mais alta que os valores da profissão ou cargo a ocupar.
Entre as duas entidades representativas, APSS e supostamente o SNAS (se é que ainda tem sustentabilidade legal para existir), talvez não se ultrapassem os mil e tal associados num universo de mais de quinze mil profissionais, mesmo que sejam 10% podemos afirmar que é um valor tolamente exíguo e sem qualquer expressão permitindo fortes razões para que se continue a ver propostas de emprego cada vez mais com funções absurdas e a valores de “saldo” onde é proposto o ordenado para Director Técnico na ordem dos €350 ou em part-time a €200 e a permitir que algumas profissões, onde nos incluímos empilhem 6, 7 e mais cargos sem que sejam responsabilizados como o conseguem fazer ou profissões descontextualizadas do Serviço Social literalmente a levarem não o assalto ao paiol de Tancos mas, aos serviços e funções que por direito de competências são do Assistente Social.

Continuaremos a viver numa angústia onde mais uma vez um governo dito social elogia a desregulamentação, alheando-se do seu papel regulador promovendo o assistencialismo e reforçando os grandes núcleos duros desse mesmo assistencialismo. Ignorando por completo a profissão e em especial os seus profissionais.

Continuamos a ver passivamente alguns deputados que até foram ou são Assistentes Sociais ou docentes no serviço social a assobiar para o lado como se nada se tratasse ou em corrente contrária à constituição da ordem, sendo quase aquilo a que podemos designar uma luta de galos ou de galinhas, com os devidos respeitos e considerações!

São esses mesmo formadores que se alheiam de transmitir aos novos Assistentes Sociais que terminam a sua graduação as ferramentas ditas adequadas para fazer face a um futuro profissional bastante negro. Formadores que em nada fomentam a humanização da profissão muito pelo contrário, tornando óbvio que entre as cerca de 19 ou 20 escolas, publicas ou privadas a guerra está instalada pois o aperto financeiro leva a que muitos se sintam, digamos apertados sobre o seu futuro e que talvez já comecem a fazer alguma futurologia sobre os anos que por ai vêm! 

Deixo mais uma vez a questão “o que pensam fazer pelo futuro da classe, sim pelo futuro da classe! Se pensam que se resolve apenas com meia dúzia de carolas a trabalharem por uma causa de milhares, estão redondamente enganados e correm o risco de perder tudo aquilo em que supostamente acreditam.

Continuem a permitir que “alguns” governem a seu belo prazer aforrando no seu bolso fundos alheios e depois não digam que não se aperceberam!

Ordem Profissional? Talvez, não sei o poder e vontade política tem a decisão!

(*) Licenciado em Serviço Social pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (2006) - Pós graduado em Serviço Social pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Gestão de Unidades Sociais e de Bem-estar (2010) – Doutorando em Serviço Social pelo ISCTE / VIA University College – Risskov Denmark in International Health (2017) - Membro da Associação dos Profissionais de Serviço Social - Membro da British Association of Social Workers  - Membro do British College of Social Work - Membro Fundador da International Associatition for the Defense of the Ostomy Person - Member of the World Council of Enterostomal Therapists - Expert in Ostomy Community

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